Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, cumprimenta Vladimir Putin durante reunião de cúpula do Brics em Kazan, na Rússia — Foto: Alexander Nemenov/Pool via Reuters
País aspirante a integrar o Brics, a Venezuela ficou de fora da lista se tornar parceiro do bloco, após pressão política do Itamaraty nos bastidores. Maduro tem se afastado de Lula desde que o governo brasileiro expressou dúvidas em relação à lisura das eleições presidenciais de julho.
Por g1
24/10/2024 19h52 Atualizado há uma hora
A Venezuela publicou um comunicado criticando o Brasil pelo veto ao ingresso do país no Brics. No texto, o regime de Nicolás Maduro compara as políticas do governo Lula às de Bolsonaro e diz que o Itamaraty reproduz “o ódio, a exclusão e a intolerância promovidos pelos centros de poder ocidentais”.
País aspirante a integrar o Brics, a Venezuela ficou de fora da lista se tornar parceiro do bloco econômico que tem Brasil, Rússia, Índia e China e África do Sul como países principais.
A decisão coincidiu com o desejo do Brasil — a relação entre Maduro e Lula está estremecida desde a eleição presidencial venezuelana, em que Maduro foi declarado reeleito em um pleito com falta de transparência, amplamento rechaçado pela comunidade internacional.
“Por meio de uma ação que contradiz a natureza e os postulados dos Brics, a representação da chancelaria brasileira (Itamaraty), liderada pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Bolsonaro aplicou à Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância promovidos pelos centros de poder ocidentais para impedir, portanto, a entrada da Pátria de Bolívar nesta organização”, diz a nota publicada pela Chancelaria venezuelana.
País escanteado
O principal tema da cúpula de Kazan foi a entrada de novos países no bloco, na categoria recém-criada de “Estados parceiros”. Eles poderão participar dos encontros, mas não terão direito a votar temas caros ao bloco, por exemplo.
Segundo apurou a TV Globo, o governo brasileiro fez pressão política para que Venezuela e Nicarágua não entrassem na lista. Não houve veto formal, mas segundo fontes ouvidas, “os russos sabem da irritação de Lula com o Maduro [devido às eleições]”.
A rusga com a Nicarágua ocorre após o ditador Daniel Ortega ter explusado o embaixador brasileiro e passar a perseguir religiosos e opositores.
Apesar de ter a entrada no bloco barrada pelo Brasil, Maduro apareceu na foto oficial. Ele viajou para Kazan e chegou na terça-feira (22), no segundo dia do evento. O presidente venezuelano defende a entrada do país no bloco, mas nem Putin defendeu oficialmente a inclusão da Venezuela aos parceiros do Brics.
Líderes das delegações dos países que participaram da cúpula do Brics posam para foto no último dia do encontro, em 24 de outubro de 2024, em Kazan, na Rússia. — Foto: Alexander Nemenov, Pool Photo via AP
Putin defende Maduro
Ao ser questionado sobre a entrada da Venezuela nos Brics, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deixou claro ser a favor da entrada do país no bloco e disse que as posições de Moscou “não coincidem com as do Brasil” em relação ao tema. A pergunta foi feita pela repórter Bianca Rothier, correspondente da TV Globo.
“Nossas posições não correspondem com a do Brasil em relação à Venezuela. Eu falo sobre isso abertamente, nós falamos sobre isso por telefone com o presidente do Brasil, com quem eu tenho uma relação muito boa, eu considero isso uma relação amigável”, disse Putin, em referência a Lula.
“Nós acreditamos que o presidente Maduro venceu a eleição de forma honesta. Ele formou o governo, e nós desejamos sucesso ao governo dele e ao povo brasileiro. Mas nós acreditamos que o Brasil e a Venezuela, em uma discussão bilateral, resolverão suas relações diplomáticas”, completou.
Fonte: g1