Padre Geraldo Gereon celebra missa no novenário de São Francisco de Assis.

Está sendo celebrado o novenário em preparação para a festa de São Francisco de Assis.

A quarta noite do novenário foi celebrado pelo Padre Geraldo Gereon, com transmissão pela emissora local Rádio Serra FM e pelas redes sociais Facebook e Youtube.

As celebrações do novenário na cidade de São Francisco de Assis do Piauí tem a participação limitada de fiéis devido a pandemia do novocoronavírus.

Veja na íntegra o sermão do Padre Geraldo Gereon.

Caras irmãs, caros irmãos desta paróquia de São Francisco de Assis:

Muito antes deste pequeno lugar ser povoado, cidade e paróquia, o povo católico já tinha escolhido São Francisco de Assis como seu padroeiro. Naquele tempo, antes que eu chegasse a morar aqui, esse festejo nunca teve a presença de um padre, nem de Paulistana, nem de Simplício Mendes. Mesmo assim, São Francisco é o Santo querido dos católicos desta terra.

        Por isso, mesmo com a crise mundial da pandemia do corona-virus, aceitando as limitações impostos pelo governo e pela diocese, celebramos com fidelidade e carinho a nossa festa de São Francisco.

        Todos os anos procuramos descobrir a mensagem de São Francisco. Os nossos santos não são, em primeiro lugar, milagreiros – são exemplos que atraem e estimulam. Eu li, nestes dias, trechos do livro sobre o primeiro bispo desta diocese de Oeiras: Dom Expedito Lopes. A diocese, depois de quatro anos de criada, ainda não tinha o seu primeiro bispo – não tinha padre que quisesse ser bispo nesta diocese gigantesca com apenas quatro padres. Dom Expedito aceitou o desafio, agasalhado num palácio em pedaços, viajando de barco, caminhão e animal: um pastor zeloso e humilde. Quando foi transferido para Garanhuns/Pernambuco, tentou consertar os grandes desequilíbrios daquela diocese. Foi assassinado por um sacerdote da mesma diocese. Na agonia da morte perdoou repetidas vezes o assassino e rezou pela conversão daquele padre infeliz. Foi aberto o processo de beatificação deste santo homem – cerca de 20 anos atrás. Estive presente neste evento em Garanhuns, por ser o administrador da nossa diocese sem bispo.

        Assim entendemos que o nosso festejo sempre de novo é aquele esforço de descobrir como o santo padroeiro nosso pode ser estímulo e exemplo para nós. Sempre de novo descobrimos o mistério da mensagem de São Francisco. Sempre de novo percebemos que o mistério da santidade de São Francisco é a conversão radical deste jovem rico. São dois textos que nos revelam, a partir das palavras de Jesus, esta mudança radical – são palavras de Jesus que São Francisco ouviu místicamente – palavras que são como o atendimento a quem bateu na porta, e ela se abre para um feliz encontro.

        A primeira palavra de Jesus aconteceu na igreja de São Damião, na cidade natal de Francisco, uma igreja quase abandonada e muito deteriorada. Do grande crucifixo, pendurado sobre o altar, São Francisco ouviu Jesus dizer: “Francisco, restaura a minha casa que, como vês, está em ruinas.” Era esta mesma igreja, na qual São Francisco se encontrava. Ela precisava de uma ampla reforma. Francisco, com os recursos da sua rica família, consertou tudo.

        Mas uma outra palavra de Jesus tocou o coração de Francisco definitivamente. Numa missa que Francisco assistiu ele ouviu no evangelho a palavra de Jesus que envia os seus discípulos: “… não levem ouro nem prata, nem sacola, nem pão, nem duas túnicas.” O que Jesus queria era que os seus seguidores vivessem como ele: simples e pobres, apenas pregando o reino de Deus. Quando ouviu este evangelho, São Francisco exclamou, cheio de alegria: “Isto é que cobiço realizar com todas as minhas forças. Nesse momento aconteceu a verdadeira conversão de São Francisco. Transformado profundamente, ele atraiu seguidores com a mesma inspiração. Tocados pelas propostas de Jesus e pregando o evangelho com convicção e alegria, eles começaram a “restaurar a Igreja” – não os prédios, mas as comunidades: paróquias, dioceses, até o Vaticano em Roma, cidades em guerra e vidas desmanteladas

        Como São Francisco poderia “restaurar a Igreja”? Apenas totalmente fiel a Jesus: sendo pobre, andando a pé, entrando nas casas, falando com ignorantes, pecadores e discriminados. São Francisco não fundou uma empresa de consultoria, com escritórios bem equipados. Ele descobriu quem era Jesus: e Jesus evitou radicar-se em Jerusalém, o centro do poder religioso, político e social. Jesus era da Galiléia – pior: de Nazaré, de onde nunca vinha nada que prestasse. Pior ainda: ele era filho de um carpinteiro, com o qual aprendeu apenas serrar pau. E o pior de tudo: Jesus cercou-se de pescadores que só sabem remar e pescar – e o líder chamava Simão Pedro, um analfabeto de pai e mãe, que andava armado de facão.

        Jesus morreu em Jerusalém, acusado como revoltoso perigoso, condenado pelo poder religioso e político, acompanhado pelo grito da população. O recado do sepulcro vazio, porém, foi dado por mulheres que diziam: ele ressuscitou – vão para a Galiléia, lá Ele vai se encontrar com vocês.

        Exatamente isso foi o que São Francisco entendeu: a Igreja a ser restaurada era a Igreja que teria que reencontrar o caminho para a Galiléia. Seria uma Igreja no meio dos homens, seguindo Jesus no caminho para os homens.

        Isso exige de nós que sejamos uma Igreja que oferece hospitalidade. Mas, ao mesmo tempo, teríamos de pedir humildemente hospitalidade para nós, sem nunca invadir com nenhuma imposição. Esses outros, hoje em dia, são cada vez mais pessoas sem nenhuma relação com qualquer igreja. Estamos caminhando para o momento, em que todas as igrejas do país (católica, evangélica, ortodoxa, pentecostais etc.) representarão menos da metade da população, ou seja: uma minoria. Jesus, porém, convida a si mesmo para se encontrar com os outros, também com os pecadores, com os que são inquietos e procuram ou apenas são curiosos. “Hoje queria ser o seu hóspede convidado,” dizia Jesus ao funcionário deshonesto e foi recebido com alegria.

        Para chegar neste ponto temos de ter a humildade de reconhecer o óbvio: a idéia cristã não é mais uma liderança formadora deste século. Mas continua caído o homem na beira do caminho. E ainda corremos o perigo de passar alegando compromissos com liturgia e finanças.

        O que deve inquietar e incomodar é o homem, o homem lá fora que nem acredita em nós. E pior: o homem que nem acredita em si mesmo, porque nunca experimentou nem praticou o amor.

        A Igreja parece não ter encontrado ainda este caminho. Ela não poderia esquecer as raízes históricas do nosso país. E nem tampouco poderia acreditar tanto na eficiência de documentos, que nem todos os padres lêem. É triste a gente ver um bispo interpretar o cartaz da Campanha da Fraternidade que mostra o bairro histórico de Salvador, chamado “Pelourinho”, interpretado por ele como “terra conhecida pela música e o carnaval”.” Pelourinho”, no entanto, era a coluna de pedra ou madeira em praça pública, onde eram expostos e executados até a morte criminosos e escravos – um símbolo da violência e injustiça. Uma Igreja que não conhece nem assume a sua história passada, sempre vai ter dificuldade para caminhar curando e ajudando na imensa necessidade do homem de hoje.

        Estamos celebrando o festejo de São Francisco. Nem Jesus, nem São Francisco jamais falaram em “Festejo”. Tanto Jesus como São Francisco queriam o “Seguimento” num caminho para o qual atrairam pelo seu exemplo.

        Vamos lembrar aqui a história do profeta Elias. Cansado de passar a mensagem de Deus para o seu povo, ele corre fugindo, deita cansado numa sombra e só quer morrer. Mas quando acorda, acha comida e bebida ao seu lado e ouve a mensagem do anjo: “Levanta e come, pois o caminho ainda é longo.” Ele se reanima quando come o alimento de Deus.

        Jesus repete este gesto de Deus: “Tomai e comei” e ainda acrescenta o lava-pés concluindo: “Dei-vos um exemplo – que vocês façam como eu vos fiz.” A Igreja, com São Francisco no caminho da restauração teria que perceber com nitidez que não é suficiente distribuir a comunhão, nas pequenas comunidades das paróquias, como resto da celebração do padre, que raramente acontece. Tem que ser a própria celebração da Eucaristia mesmo, nos domingos. A conclusão lógica é que precisamos de sacerdotes com profissão e família, que celebram a eucaristia nestas milhares de pequenas comunidades das nossas paróquias. Não seria nenhuma novidade – é só recordar os primeiros séculos da Igreja.

        Lembremos mais uma vez: São Francisco, convertido para seguir Jesus na pobreza e simplícidade, inspirado pelo Evangelho e pela cruz do Senhor, conseguiu restaurar não só o prédio da igreja em ruinas, na sua cidade. Mas contribuiu para restaurar a Igreja-Instituição, inclusive bispos e papas. Esse é o desafio do nosso festejo: partir de novo para ser Igreja juntos com os homens do nosso tempo, uma Igreja com os homens e para os homens. O nosso Papa, com o mesmo nome de “Francisco” fala duma “Virada de época” que não exige apenas novas atividades mais eficientes, mas uma conversão do homem com coração, cabeça e mão.

        São Francisco jogou dinheiro pela janela, nunca mais montou um cavalo, só tinha uma roupa, andou de pé até Roma, obedeceu até ao guardião do mosteiro fundado por ele, morreu deitado no chão. Ele define a verdadeira alegria como “ficar imperturbável e com paciência quando procura hospedagem numa noite fria, com chuva e gelo, e é mandado embora”. Ele continua nos mostrando que a Igreja deve partir novamente da Galiléia para os homens onde estiverem vivendo, amando e sofrendo. É isso que queremos entender como “Igreja-Casa”.

        Eu aprendi a rezar todo dia, pela manhã, com as palavras de São Francisco:

                         “Altíssimo glorioso Deus,

                         Iluminai as trevas do meu coração.

                         Concedei-me uma fé direita,

                         Uma esperança certa,

                         Uma caridade perfeita,

                         Bom senso e conhecimento, Senhor,

                         Para que faça o sagrado mandado

                         Que me confiastes. – Amém.

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