Genro (de camisa branca) e filho (de camisa cinza) de falsa enfermeira chegam para depor na sede da Polícia Federal — Foto: Reprodução/TV Globo
A cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, que se passava por enfermeira, aplicou os imunizantes, segundo a Polícia Federal. Vacinação foi organizada pelos empresários Robson e Rômulo Lessa.
O filho e o genro de Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, suspeita de vacinar cerca de 100 pessoas em uma garagem dos empresários Robson e Rômulo Lessa, em Belo Horizonte, foram indiciados pela Polícia Federal nesta segunda-feira (5).
Eles são suspeitos de associação criminosa e de “falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais”. A pena pode chegar a 15 anos de prisão.
A cuidadora de idosos, que se passava por enfermeira, já tinha sido indiciada pelos mesmos crimes.
O filho de Cláudia, Igor Torres, é suspeito de receber os pagamentos pelas vacinas. Cada uma teria custado R$ 600. Ele e o genro da falsa enfermeira, identificado como Júnior, que a teria levado até a garagem, no bairro Caiçara, na Região Noroeste de Belo Horizonte, prestaram depoimento na sede da Polícia Federal no início da tarde. Eles saíram sem falar com a imprensa.
Genro de falsa enfermeira aparece em vídeo mnuseando maços de dinheiro — Foto: Reprodução/TV Globo
Uma imagem divulgada pela PF mostra Júnior manuseando vários maços de dinheiro. Há a hipótese de que seja parte do pagamento pela vacinação.
Daniviele Torres, filha de Cláudia, apareceu horas depois na sede da PF. A polícia investiga a participação dela no caso. Uma testemunha também foi ouvida. A identidade dela não foi divulgada.
Entre as 57 pessoas que constam na lista apreendida durante e Operação Camarote estão advogados, um aluno de doutorado, um dentista e quatro parentes do ex-senador Clésio Andrade. Ele nega ter recebido o imunizante, mas admitiu que esteve na garagem.
Em depoimento à Polícia, Rômulo Lessa, dono da empresa de transportes Saritur, confirmou que a garagem foi utilizada por dois dias seguidos para realizar a vacinação clandestina.
Os investigadores acreditam que, além das 57 pessoas presentes na lista, outras 40 foram imunizadas na garagem da Saritur.
Histórico de golpes
Segundo a Polícia Federal, as doses foram aplicadas pela falsa enfermeira Cláudia Pinheiro. Apesar de se apresentar como profissional de saúde, ela nunca teve registro no Conselho de Enfermagem.
“Ela sempre falava que era enfermeira, que era instrumentador, mas nunca mostrou para a gente uma carteirinha”, disse uma mulher que trabalhou com Cláudia e que não quis se identificar.
Ainda de acordo com a mulher, que trabalhava como cuidadora de idosos com Cláudia, não era de hoje que a falsa enfermeira aplicava golpes. Segundo os relatos, ela pedia dinheiro emprestado e, ao ser cobrada, inventava desculpas para não pagar o valor.
Essa não foi a única vez que Cláudia teria desaparecido com o dinheiro dos outros. A TV Globo apurou que há diversos processos contra ela na Justiça. Em um dos casos, uma das vítimas diz ter perdido R$ 20 mil.
A mulher que trabalhou com Cláudia relata ainda que as informações eram de que a falsa enfermeira era perigosa. “As pessoas falavam que ela era meio perigosa, que tinha envolvimento com pessoas que eram perigosas e a gente ficou com medo mesmo de ir atrás do dinheiro que tinha que receber justamente por isso. (Por conta) do que era ela seria capaz de fazer”, diz.
Neste sábado (3), Cláudia teve o pedido de habeas corpus aceito pela Justiça e foi solta provisoriamente. O advogado dela, Bruno Agostini, disse que ainda não teve acesso às investigações.
“A senhora Cláudia está à disposição de esclarecer os fatos, contato que ela tenha acesso às alegações que estão sendo trazidas contra ela”, informou.
Fonte: Por Fernando Zuba, TV Globo — Belo Horizonte