Especial: as 9 horas de terror no Jacarezinho — Foto: Guilherme Luiz Pinheiro / G1
Neste sábado (8), Polícia Civil do RJ afirmou ao G1 que ‘28 criminosos e o inspetor de polícia André Leonardo de Mello Frias morreram na operação’.
Subiu para 29 o número de mortos na operação no Jacarezinho da última quinta-feira (6).
Ao G1, a Polícia Civil do RJ informou neste sábado (8) que “28 criminosos e o inspetor de polícia André Leonardo de Mello Frias morreram na operação”.
Até esta sexta-feira (7), a polícia falava em 27 criminosos mortos, além de Frias.
Até a última atualização desta reportagem, mais de 48 horas depois do início da operação, a polícia ainda só tinha divulgado o nome de 3 mortos:
Isaac Pinheiro de Oliveira, o Pee da Vasco;
Richard Gabriel da Silva Ferreira, o Kako;
Rômulo Oliveira Lúcio, o Romulozinho.
Os três constam da lista de 21 denunciados pelo Ministério Público por tráfico de drogas e eram procurados pela polícia.
A investigação aponta que eles eram “soldados” do tráfico, atuando como braço armado da organização criminosa no Jacarezinho.
‘Todos são traficantes’
Em discurso durante o sepultamento do inspetor, nesta sexta (7), o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski, elogiou a ação da polícia no Jacarezinho e disse que informações do setor de inteligência da corporação identificaram que — até então — todos os 27 considerados suspeitos que morreram eram traficantes.
“A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes, 19 com folhas corridas até agora”, disse o secretário. “Não foi em vão, André, não foi em vão”, disse, encerrando seu discurso com aplausos.
Veja o que se sabe e o que ainda falta esclarecer em 8 perguntas e respostas:
1. O que a polícia foi fazer no Jacarezinho?
Agentes de diferentes delegacias, com apoio da Core, a tropa de elite da Polícia Civil, deflagraram a Operação Exceptis. A força-tarefa investiga o aliciamento de crianças e adolescentes para ações criminosas, como assassinatos, roubos e até sequestros de trens da Supervia.
A polícia afirma que o tráfico da região adota táticas de guerrilha, com armas pesadas e “soldados fardados”.
Polícia fez operação nesta quinta (6) na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do RJ — Foto: Reginaldo Pimenta/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
2. O que dizem os moradores?
Em vídeos publicados em redes sociais e em relatos à Defensoria Pública, testemunhas afirmam que suspeitos foram executados.
Thaynara Paes, mulher de um dos mortos no Jacarezinho, disse que, ao ser localizado pela polícia, o marido, Rômulo Oliveira Lúcio, chegou a se entregar, mas ainda assim foi executado. Rômulo, segundo ela, tinha 29 anos e estava na condicional.
Outra moradora filmou um policial e disse que o suspeito queria se entregar. A mulher acusou os agentes de tentarem “encurralar” moradores para evitar que eles chegassem até o local onde supostamente o homem teria se rendido.
Casa de mulher de 50 anos ficou repleta de sangue após ação policial no Jacarezinho — Foto: Reprodução
O advogado Rodrigo Mondego, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no RJ (OAB-RJ), contou que uma pessoa que vivia na casa foi para uma área externa, após a invasão. A testemunha relatou ter ouvido de policiais da Core que ficasse fora de casa enquanto os policiais estavam no local.
“Ela ficou nervosa, e a polícia disse pra ela ficar do lado de fora. Ela ouviu gritos, e, em seguida, os tiros”, contou Mondego.
Circunstâncias de foto de morto em cadeira serão apuradas, diz polícia — Foto: Redes Sociais
Outra denúncia de moradores do Jacarezinho envolve a imagem de um homem morto em uma cadeira de plástico, numa das vielas da comunidade, com um dedo na boca.
Ocorreram, ainda, queixas de que policiais “confiscaram” telefones celulares de moradores, sob a alegação de que os moradores estavam mandando informações para traficantes.
“Estão pegando telefone e agredindo morador”, relatou uma testemunha.
3. O que a polícia diz sobre as alegadas execuções?
O delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário operacional da Polícia Civil, disse não considerar que houve erros ou excessos na operação.
“A Polícia Civil não age na emoção. A operação foi muito planejada, com todos os protocolos e em cima de 10 meses de investigação”, afirmou o subsecretário operacional da Polícia Civil.
Sobre a imagem do morto encontrado na cadeira, o delegado Fabrício de Oliveira, coordenador da Core e que participou da operação, disse que as circunstâncias em que ela foi feita vão ser apuradas.
“Quando a polícia acessou, alguns criminosos foram encontrados já mortos. Caso está sob investigação e em breve a polícia vai dar mais detalhes dobre a dinâmica do que aconteceu”, disse.
4. Quem são os mortos?
Até a última atualização desta reportagem, apenas um deles tinha sido identificado pela polícia: o policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, atingido na cabeça no início da operação.
Os demais seguiam sem identificação oficial, mas, segundo o delegado Felipe Curi, os 28 eram “todos criminosos”. “Não tem suspeito, é criminoso, bandido, traficante e homicida porque tentaram matar os policiais”, afirmou.
A polícia também não esclareceu as circunstâncias em que foram mortos.
De todos os mortos, a polícia confirmou a identidade de apenas três – presentes na lista de denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ):
Isaac Pinheiro de Oliveira, 22 anos
Richard Gabriel da Silva Ferreira, 23 anos
Rômulo Oliveira Lúcio, 29 anos
5. Quantos foram presos?
O delegado Felipe Curi informou que seis pessoas foram presas: três com mandado de prisão e três em flagrante. Outros três procurados foram mortos — seriam Isaac, Richard e Rômulo.
A polícia tinha falado em 21 criminosos denunciados e identificados em escutas autorizadas pela Justiça, mas não esclareceu se contra todos foram expedidos mandados de prisão.
Detalhe da munição anti-aérea apreendida no Jacarezinho — Foto: Eliane Santos/G1
6. O que foi apreendido?
Um balanço divulgado às 17h de quinta-feira listava:
16 pistolas
6 fuzis
12 granadas
1 submetralhadora
1 escopeta
Também foi apreendida “farta quantidade de drogas” — que não foi contabilizada.
7. A operação foi autorizada?
A polícia garantiu que cumpriu todos os protocolos exigidos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público confirmou que foi avisado.
No ano passado, o STF determinou regras para operações policiais em comunidades — incursões de rotina estão proibidas. Pela decisão do ministro Edson Fachin, as ações só seriam permitidas de maneira excepcional.
“Decisão do STF não impede a polícia de fazer o dever de casa. Ela coloca protocolos, e a Polícia Civil cumpre todos”, disse o delegado Rodrigo Oliveira.
“Não sei se as grandes operações dão resultado. O que eu sei é que a falta de operação dá um péssimo resultado”, emendou Oliveira.
8. Por que esta foi a operação mais letal?
Nenhuma outra deixou tantos mortos, segundo um levantamento feito pelo G1 com informações do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado.
“Foi a operação mais letal que consta na nossa base de dados, não tem como qualificar de outra maneira que não como uma operação desastrosa. É uma ação autorizada pelas autoridades policiais, o que torna a situação muito mais grave”, disse o sociólogo Daniel Hirata, do Geni.
Fonte: Por Eduardo Pierre, G1 Rio