Isac Nóbrega/ PR
Ministro ficou no cargo por pouco mais de 1 ano e 11 meses. Em 2019, Ministério Público denunciou Álvaro Antônio por candidaturas-laranja
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu nesta quarta-feira (9/12) o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Quem deve assumir o cargo é o atual presidente da Embratur, Gilson Machado.
Álvaro Antônio esteve no cargo por pouco mais de 1 ano e 11 meses, tendo ingressado no governo em 1º de janeiro de 2019.
O agora ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio sobreviveu a acusações de que patrocinara candidaturas-laranjas nas eleições de 2018, a um indiciamento da Polícia Federal e à denúncia do Ministério Público de Minas Gerais por envolvimento no esquema (leia mais abaixo). Ele acabou derrubado por conta de uma mensagem enviada em um grupo de WhatsApp que reúne ministros do governo de Jair Bolsonaro.
Na mensagem, Álvaro Antônio acusava o colega chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, de ataques “sem parar” a conservadores, “de forma covarde”. Estava inconformado com o que identificava como movimentos do general da reserva para tirá-lo do cargo na reforma ministerial que vem sendo gestada na Planalto para o próximo ano.
Leia a íntegra da mensagem enviada por Marcelo Álvaro Antônio:
Caros colegas, de antemão peço desculpas por utilizar este espaço com objetivo que não seja a construção de um Brasil melhor.
Ministro Ramos, sinceramente não sei onde o Sr estava nos anos 2016, 2017, 2018…
Mas eu, junto ao Ministro Onix e outros membros do governo, já estava na Câmara do Deputados articulando em favor da então candidatura do Presidente JB (em um momento que quase ninguém acreditava na eleição dele). Na ocasião da campanha, percorri TODAS as regiões do estado de MG de carro para organizar as ações da campanha, dormindo na maioria das vezes 4 / 5 horas por noite, levando as pessoas a minoria a acreditar que precisávamos dele para mudar o Brasil (a maioria naquele momento já acreditava).
Quem estava na campanha eram os conservadores que hoje o senhor ataca sem parar, de forma covarde.
Quando indicado ao Presidente pelo ministro Onix, procurei incansavelmente honrar nosso Capitão à frente do Ministério do Turismo. O trabalho me parece que surtiu efeito… Em 2019 vivemos o melhor momento da história do ministério:
– Enquanto a própria economia (PIB) cresceu 1,1% a economia do Turismo cresceu 2,6 (mais que o dobro);
– Geramos 163% a mais de empregos que o mesmo período do ano anterior;
– Com a ajuda do Itamaraty e da Assessoria Internacional do Presidente, isentamos de vistos quatro países estratégicos EUA, Japão, Canadá e Austrália, isso nos permitiu bater alguns recordes, pela primeira vez na história Cataratas do Iguaçu ultrapassou a barreira de 2 milhões de visitantes em 2019;
– A transformação da EMBRATUR em uma agência de promoção internacional (um pleito de mais de 10 anos) vai sem dúvida em médio prazo trazer grandes resultados;
– Fui a Madri em bate e volta, fiz três reuniões, resultado: Conseguimos atrair o Wakalua, o maior hub de inovação e tecnologia em soluções para o turismo do mundo, o escritório será aberto no próximo semestre (vai nos trazer GRANDES avanços);
Conseguimos atrair a Air Europa para operar no Brasil (Já homologada pela ANAC); Conseguimos atrair o Escritório da Organização Mundial do Turismo (OMT), será instalado no RJ, ação que vai colocar o Brasil na vitrine dos investimentos do turismo no mundo.
– Na pandemia as ações do Ministério do Turismo (junto ao ME) foram alvo de gratidão e reconhecimento desde os maiores empresários do Trade turístico até os mais simples Guias de Turismo.
Enfim, dito isso, não me admira o Sr Ministro Ramos ir ao PR pedir minha cabeça, a entrega do Ministério do Turismo ao Centrão para obter êxito na eleição da Câmara dos Deputados.
Ministro Ramos, o Sr entra na sala do PR comemorando algumas aprovações insignificantes no Congresso, mas não diz o ALTÍSSIMO PREÇO que tem custado, conheço de parlamento, o nosso governo paga um preço de aprovações de matérias NUNCA VISTO ANTES NA HISTÓRIA, e ainda assim (na minha avaliação), não temos uma base sólida no Congresso Nacional, (tanto que o Sr pede minha cabeça pra tentar resolver as eleições do parlamento, ironia, pede minha cabeça pra suprir sua própria deficiência)…
Nem por isso Ministro Ramos, fui ao PR pra dizer que o Sr não capacidade pra atuar em tal função, AO CONTRÁRIO, várias vezes ofereci ajuda pra que o Sr tivesse êxito em suas atribuições (ex: Contratação do Carlos Henrique, abrindo espaços no MTur).
SOMOS UM TIME PELO BRASIL, o Sr deveria ter aprendido na sua própria formação militar que não se joga um companheiro de guerra aos inimigos, não se pode atirar na cabeça de um aliado…
Ministro Ramos, o Sr é exemplo de tudo que não quero me tornar na vida, quero chegar ao fim da minha jornada EXATAMENTE como meus pais me ensinaram, LEAL aos meus companheiros e não um traíra como o senhor.
Tenha um Bom dia!
Denúncia por candidaturas-laranja
Em 2019, o Ministério Público Eleitoral de Minas Gerais denunciou Álvaro Antônio por crimes envolvendo candidaturas-laranja do PSL em 2018. O indiciamento do ministro pela Polícia Federal ocorreu devido ao crime eleitoral de omissão na prestação de contas, e também em razão do crime de associação criminosa.
Pela investigação, o partido inscreveu candidatas sem a intenção de que elas fossem, de fato, eleitas. Isso porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que pelo menos 30% dos recursos do fundo eleitoral devem ser destinados a candidaturas femininas.
Marcelo Álvaro Antônio é citado em depoimentos na investigação sobre o uso de candidaturas de mulheres na eleição de 2018 para desvio da verba eleitoral no estado.
Segundo inquérito da PF, ele “era e ainda é o ‘dono’ do PSL mineiro”. À época dos crimes apontados, Marcelo era o presidente estadual do PSL, partido do presidente da República, Jair Bolsonaro.
No indiciamento, a PF afirma que o então presidente do PSL em Minas “possuía o total domínio do fato, controle pleno da situação, com poder de decidir a continuidade ou interrupção do repasse de recursos do fundo partidário”.
Desde o início da investigações, Álvaro Antônio nega as acusações.
Trocas no governo
Com a demissão de Álvaro Antônio, esta passa a ser a 15ª troca no primeiro escalão do governo Bolsonaro. Relembre abaixo:
- 18 de fevereiro de 2019 – Secretaria-Geral da Presidência: Gustavo Bebianno é substituído por Floriano Peixoto Vieira Neto;
- 8 de abril de 2019 – Educação: Ricardo Vélez Rodríguez é substituído por Abraham Weintraub;
- 13 de junho de 2019 – Secretaria de Governo: Carlos Alberto dos Santos Cruz é substituído por Luiz Eduardo Ramos;
- 21 de junho de 2019 – Secretaria-Geral da Presidência: Floriano Peixoto Vieira Neto é substituído por Jorge Antonio Oliveira;
- 6 de fevereiro de 2020 – Desenvolvimento Regional: Gustavo Canuto é substituído por Rogério Marinho;
- 13 de fevereiro de 2020 – Casa Civil: Onyx Lorenzoni é substituído por Walter Braga Netto;
- 13 de fevereiro de 2020 – Cidadania: Osmar Terra é substituído por Onyx Lorenzoni;
- 16 de abril de 2020 – Saúde: Luiz Henrique Mandetta é substituído por Nelson Teich;
- 24 de abril de 2020 – Justiça e Segurança Pública: Sergio Moro é substituído por André Luiz Mendonça;
- 28 de abril de 2020 – Advocacia-Geral da União: André Luiz Mendonça é substituído por José Levi Mello do Amaral Junior;
- 15 de maio de 2020 – Saúde: Nelson Teich é substituído por Eduardo Pazuello;
- 16 de junho de 2020 – Comunicações: Bolsonaro recria pasta, desmembrada do MCTIC. Fabio Faria é nomeado para o cargo;
- 18 de junho de 2020 – Educação: Abraham Weintraub é substituído por Carlos Alberto Decotelli;
- 30 de junho de 2020 – Educação: Decotelli é substituído por Milton Ribeiro.
Fonte: Por MAYARA OLIVEIRA–LOURENÇO FLORES/Metrópoles