Foto: Kevin Lamarque/Reuters
Presidente americano não pronunciou em nenhum momento o nome do ex-presidente e afirmou que seu antecessor ‘não fez nada durante horas enquanto o Capitólio estava cercado’.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de evento no Statuary Hall, no Capitólio, no primeiro aniversário do ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Congresso americano por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, em Washington, em 6 de janeiro de 2022 — Foto: Kevin Lamarque/Reuters
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamou nesta quinta-feira (6) seu antecessor, Donald Trump, de “perdedor” e “mentiroso” e o acusou de representar uma ameaça contínua à democracia, em discurso no aniversário de um ano do violento ataque ao Capitólio.
Logo após o discurso, Trump reagiu à fala de Biden e divulgou um comunicado em que acusa o presidente americano de “tentar dividir ainda mais a América” e diz que “todo esse teatro político é apenas uma distração para o fato de Biden ter falhado completa e totalmente”.
Seguidores de Trump invadiram a sede do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021 para tentar reverter sua derrota eleitoral. O ataque deixou cinco mortos, inclusive um policial, e mais de 700 pessoas já foram presas e indiciadas.
“Para dizer o obvio, há um ano, neste local sagrado, a democracia foi atacada. A nossa constituição enfrentou a sua maior ameaça”, começou Biden em seu discurso. Ele afirmou que quem salvou o Estado de direito foi a polícia e que “nós, o povo, aguentamos e prevalecemos”.
O presidente americano reafirmou que não há provas de que os resultados eleitorais foram imprecisos e que Trump “perdeu por mais de 7 milhões de votos”. “Você não pode amar seu país só quando ganhar”.
Biden, que em nenhum momento pronunciou o nome de Trump e o chamou de “ex-presidente derrotado”, afirmou que o então ocupante da Casa Branca “não fez nada durante horas enquanto o Capitólio estava cercado”.
O discurso de um ano da invasão ao Capitólio marca uma forte escalada na estratégia do presidente americano em relação aos distúrbios, de culpar Trump diretamente por seu papel no ataque sem precedentes à democracia americana.
Biden alertou que o prejuízo causado por Trump antes da invasão — em um discurso enfurecido no qual afirmou falsamente que sua derrota era resultado de fraude generalizada — continua. Disse também que as mentiras que conduziram à raiva e à loucura do ataque não acabaram.
“Vamos ser um país que permite que autoridades eleitorais partidárias possam reverter o desejo expressado legalmente pelo povo? Seremos um país que não vive à luz da verdade, mas nas sombras de mentiras? Não podemos nos permitir ser esse tipo de país. O caminho para frente é reconhecer a verdade e viver ao lado dela”, afirmou Biden.
‘Nem durante a guerra civil’
O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa no Statuary Hall, no Capitólio, durante cerimônia do primeiro aniversário do ataque de 6 de janeiro de 2021 à sede do Congresso americano por partidários do ex-presidente Donald Trump, em Washington DC, em 6 de janeiro de 2022 — Foto: Drew Angerer/Pool via Reuters
O presidente americano chamou as pessoas que entraram no prédio do Congresso de invasores, que violaram o local com bandeiras que simbolizavam as causas para destruir os EUA. “Nem durante a guerra civil isso aconteceu. Mas aconteceu aqui em 2021″.
Biden listou os atos que os invasores fizeram: quebraram vidros, chutaram portas, jogaram extintores nos policiais, pisotearam os agentes e defecaram nos corredores. “Nós vimos com os nossos próprios olhos, ameaçaram a vida da presidente da Câmera, queriam enforcar o vice-presidente dos EUA”.
Ele, então, começou a criticar Trump.“O ex-presidente, sentado em uma sala de jantar vendo tudo na TV, não fez nada por horas”.
“O ex-presidente criou e espalhou uma teia de mentiras sobre as eleições de 2020. Ele fez isso porque ele valoriza mais o poder do que os princípios, ele prioriza o interesse dele antes dos interesses dos EUA”, afirmou Biden. “Ele não aceita que perdeu”.
Mentiras contadas por Trump
Biden diz que há três mentiras que foram contadas pelo seu antecessor:
1- O dia da eleição não representou a vontade dos americanos, mas, sim o dia da invasão;
2- Os resultados das eleições de 2020 não eram confiáveis;
3- Quem invadiu o prédio do Congresso eram patriotas.
“Os apoiadores do ex-presidente tentam reescrever a história. Querem transformar o dia da eleição em uma insurreição — e que o que aconteceu aqui no dia 6, como a verdadeira expressão do povo”, disse Biden. “A eleição de 2020 foi a maior demonstração de democracia na história deste país”.
Eleição e direito ao voto
Ele, então, criticou leis estaduais que dificultam o acesso ao voto. De acordo com Biden, isso é um reflexo da derrota de 2020 —os republicanos deveriam se reciclar, procurar novas ideias, mas, ao invés disso, tentam simplesmente dificultar a votação.
Ao defender os resultados das eleições, ele afirmou que a votação foi mantida em todas as instâncias jurídicas, estaduais e nacionais. Biden chamou a atenção para um fato: as cédulas de votação têm espaço para distintos temas, mas só foram criticados os votos para presidente.
“O ex-presidente estava em dúvida de que iria vencer e construiu essa mentira por meses. Não era baseado em fatos. Ele queria uma desculpa para cobrir a verdade. Ele não é um ex-presidente, ele é um ex-presidente derrotado. Não há nenhuma prova de que os resultados eram errados.”
Por fim, Biden disse que os invasores não eram patriotas.
“Aqueles que invadiram esta capital e aqueles que instigaram e incitaram, e aqueles que os convocaram a fazer isso seguraram um faca na garganta dos EUA e da democracia americana. Eles não vieram para cá por patriotismo.”
Críticas à China e à Rússia
O presidente americano, então, criticou a China e a Rússia. Ele afirmou que, nesses dois países, os líderes “apostam que os dias da democracia estão contados”. “Eles apostam que nós, nos EUA, nos tornaremos mais como eles. Que os EUA vão ser um lugar para autocratas”.
Biden refutou essa ideia e disse que, nos Estados Unidos, o poder é transferido pacificamente, sem armas, e que “todos são criados iguais”.
Fonte: Por g1