(Foto: Divulgação/Olympiakos; AFP)
Ao desistir de negociações, diretorias mostram, mais uma vez, que estão preocupadas com a austeridade financeira. Decisões recentes colocam os clubes à frente dos adversários
A torcida do Flamengo queria muito ter Rafinha de volta. Tudo o que lembre o ano mágico de 2019 atiça o ânimo da Nação rubro-negra. O Palmeiras sabe que precisa de um reforço para o ataque. E o colombiano Borré caía com uma luva nos planos do treinador Abel Ferreira. Nem o lateral vai ser do Flamengo, nem o atacante vai vestir a camisa do Verdão. E isso é muito bom.
Decisões como essas é que têm colocado o Flamengo e o Palmeiras em um patamar à frente do futebol brasileiro. Só não vê quem não quer. Afinal, nos últimos dois anos, todos os títulos importantes disputados por aqui foram ganhos pela dupla – exceto a Copa do Brasil de 2019, que o Athletico Paranaense faturou. Nada foi por acaso. O que isso mostra é que equilíbrio financeiro, responsabilidade e profissionalismo na gestão não são incompatíveis com resultados dentro do campo. Muito ao contrário.
Ainda mais em um cenário de incertezas como o que vivemos hoje, com o país mergulhado na maior crise sanitária de sua história, com um presidente negacionista e um governo incompetente e incapaz de oferecer soluções minimamente eficazes para conter a pandemia, cortar os custos, respeitar o orçamento e a capacidade de investir é o único caminho que resta aos clubes. É a forma de sair vivo e competitivo do outro lado do túnel.
Felizmente, isso parece, enfim, estar entrando na cabeça da cartolagem. No Corinthians, onde o presidente Duílio Monteiro Alves ainda junta os cacos da desastrada gestão de Andrés Sanchez, a prioridade passou a ser, de fato, botar as contas em dia. Pelo quarto ano consecutivo o clube fechou o balanço no vermelho com um déficit de R$ 123 milhões em 2020, e uma dívida que se aproxima de R$ 1 bilhão, sem considerar o espólio amargo da construção da Neo Química Arena que ainda atormenta o clube.
O Timão, pela força de sua torcida, por sua história, tem – exatamente ao lado do Palmeiras e do Flamengo -, o maior potencial econômico e de liderança no futebol brasileiro. Desperdiçar isso seria um crime. Não é uma transição fácil saltar de gestões amadoras e temerárias para um norte responsável: corte de 20% nas despesas, aposta nas revelações da base, casca grossa para suportar pressões por resultados imediatos e paciência, muita paciência, é o que a diretoria corintiana vai precisar ter. Flamenguistas e palmeirenses já passaram por isso.
Não se sabe quando o público vai poder voltar aos estádios. Não se sabe sequer por quanto tempo campeonatos podem ficar parados e quanto o calendário vai ter de ser modificado, também esse ano, com a Covid-19 fora de controle. Mas se sabe muito bem o impacto que isso tudo vai ter no mundo da bola, podendo comprometer receitas como os direitos de transmissão de TV e os contratos de patrocínio que ainda se mantiveram no ano passado. Austeridade, portanto, necessariamente tem de ser a palavra de ordem. Rafinha e Borré que nos perdoem.
Fonte: Por Luiz Fernando Gomes/Lance