Bruno Fratus comemora bronze — Foto: REUTERS/Marko Djurica
Velocista de 32 anos, cuja vida é representada nas tatuagens que exibe, vai ao pódio em sua terceira final nos Jogos. Caeleb Dressel confirma favoritismo pelo ouro e Florent Manaudou leva a prata
Uma das tatuagens mostra ondas de um mar agitado. Um pouco abaixo, dois números romanos: MMXII e MMXVI, que traduzidos significam “2012” e “2016”. São símbolos de duas das maiores representações da vida de Bruno Giuseppe Fratus: a água e as Olimpíadas.
As marcas na pele, agora, servem como um resumo da trajetória que atingiu seu auge neste dia 31 de julho de 2021 no Brasil (manhã de 1º de agosto no Japão), com a conquista do maior feito da carreira do velocista.
Novamente, na água. Uma vez mais, nas Olimpíadas. O bronze está no peito!
Com o tempo de 21s57, Fratus obteve a medalha de bronze nos 50m livre nas Olimpíadas de Tóquio e se sagrou o nono nadador do país a subir ao pódio do megaevento em esportes individuais. Ele ficou atrás do Caeleb Dressel, que anotou 21s07, novo recorde olímpico, e de Florent Manaudou, da França, que anotou 21s55 – nas semifinais, ele havia sido o terceiro mais rápido na classificação.
Mais do que isso, ele reafirmou a tradição do país em provas de velocidade (que abrangem os 50m livre e os 100m livre) nos Jogos. Uma história que começou com Manoel dos Santos (bronze nos 100m livre em Roma 1960), passou por Gustavo Borges (duas medalhas, uma prata e um bronze, nos 100m livre) e Fernando Scherer (bronze nos 50m livre) e tivera seu capítulo até então final em Cesar Cielo (ouro e bronze nos 50m livre e bronze nos 100m livre).
“(O grito) está entalado desde 2011, quando disputei meu primeiro mundial. Depois, 2012 aquela Olimpíada do quase. Depois do Rio principalmente. Foi um grito de finalmente medalhista olímpico”
– Realizei meu sonho que começou quando eu tinha 11 anos de idade e não teria sido sem o suporte, o amor, a amizade de todo mundo que está até agora do meu lado e não abriu. Sem a palavra de quem duvidou. Essa é para vocês também!
Inquieto, Fratus nunca se acomodou com estabilidade ao buscou incessantemente aprimoramento no exterior. Irreverente, exibe em seu corpo inúmeras tatuagens, das ondas às referências olímpicas e até a personagens do seriado Dragon Ball Z. Um nadador e indivíduo de personalidade forte, que viralizou na Rio 2016 depois de uma entrevista e jamais escondeu o que pensa.
“Os caras são grandes, mas nós somos ruins. Aqui é Brasil! Não tem essa, não. A gente vai e faz”
– Se é para deixar uma mensagem é que o Brasil é o melhor povo, o melhor país do mundo. Eu moro nos Estados Unidos faz um tempo e todo mundo paga pau para o Brasil e para o povo brasileiro. A gente é muito capaz. Se permitam ser o povo que a gente pode ser, o país que a gente pode construir – disse após garantir a medalha tão sonhada.
Um velocista que gosta de desafiar convenções e que há anos abdicou de treinar em um clube tradicional e preferiu seguir seus instintos e definir um programa apenas seu nos Estados Unidos.
Alguém que, ingagado pelo ge para o projeto DNA Time Brasil sobre escolaridade, deu uma amostra do que pensa sobre caminhos tradicionais.
– Tive a infelicidade de perder dez anos da minha vida no sistema de ensino convencional.
Bruno Fratus em Tóquio — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Nascido em Macaé e criado no Rio Grande do Norte, Fratus despontou no cenário da natação brasileira no início da década passada, quando venceu em 2011 uma final dos 100m livre no Troféu Maria Lenk, principal campeonato nacional, que tinha Cesar Cielo no páreo. Naquele mesmo ano ele ganhou território em nível internacional, mas na prova que o colocaria de vez no mapa dos grandes atletas do país: os 50m livre.
Se era Cielo quem ainda dominava a distância mais rápida das piscinas, Fratus começava a se inserir como um expoente nela. Foi finalista no Campeonato Mundial de Xangai, em 2011, com 22 anos. Terminou em quinto lugar, mas deu amostra de seu potencial na semifinal, quando registrou o melhor tempo. No ano seguinte, classificado para as Olimpíadas de Londres, bateu na trave para subir ao pódio ao cravar 21s61, apenas dois centésimos mais lento do que Cielo, bronze com 21s59.
Em 2013, passou por um uma cirurgia no ombro direito e, por isso, perdeu o Campeonato Mundial de Barcelona. Foi nessa época que a ideia de morar e treinar fora do Brasil passou de flerte a realidade. Primeiro, mudou-se para a Itália. Depois, para os Estados Unidos, onde vive até hoje. Lá, vive com a esposa e treinadora, Michelle Lenhardt, por sinal ex-nadadora olímpica, e os cachorros Harrison e Carlos – depois de viverem no Alabama, há alguns anos fixaram residência em Coral Springs, na Flórida.
O problema no ombro poderia tê-lo tirado do páreo. E a verdade é que, quando Fratus voltou, nunca mais foi o mesmo. Para melhor. No Pan-Pacífico de Gold Coast, na Austrália, em 2014, obteve sua primeira grande conquista internacional ao vencer os 50m livre com o excelente tempo de 21s44, recorde da competição.
Aquele ouro prenunciou uma sequência incrível em Campeonatos Mundiais, sempre nos 50m livre, que premiou sua regularidade. Foi bronze na edição de Kazan 2015, prata em Budapeste 2017 e novamente prata em Gwangju 2019 – além disso, também compôs o revezamento 4x100m livre que se sagrou vice-campeão em 2017.
Bruno Fratus registrou o quarto melhor tempo das eliminatórias — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Em meio aos pódios consecutivos em Mundiais, Fratus chegou candidato às Olimpíadas do Rio. Mas um problema na região lombar agravado meses antes o afetou e ele ficou em sexto na decisão.
Nadador que vai mais vezes completou os 50m livre abaixo dos 22s na história (90), ele também soma sete medalhas em Jogos Pan-Americanos, das quais cinco de ouro. Na final da distância no Pan de Lima, ele faturou o ouro ao vencer o norte-americano Nathan Adrian, bronze olímpico na Rio 2016.
Agora, em Tóquio, veio a medalha que faltava em sua galeria tão recheada. Com a façanha, ele se iguala a Fernando Scherer (bronze em Atlanta 1996) e Cielo (ouro em 2008 e bronze em 2012) como os nadadores mais rápidos já laureados na natação brasileira.
Fonte: Por Paulo Roberto Conde — Tóquio, Japão