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O ex-juiz, promotor de Justiça aposentado e advogado Wilson Koressawa já pediu interrupção do Poder Legislativo e prisão de 40 autoridades
O homem que pediu a prisão do jornalista William Bonner, Wilson Issao Koressawa, foi juiz do Tribunal de Justiça do Amapá e, atualmente, é promotor de Justiça aposentado do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), com remuneração de R$ 23 mil.
Justiça nega prisão de William Bonner: “Delírios negacionistas”
Como advogado, Koressawa coleciona histórico de pedidos judiciais considerados por juízes como confusos, completamente descabidos e que incluem teorias conspiratórias e fake news. Ou seja, apesar de já ter integrado mais de um órgão do Poder Judiciário, o homem não tem demonstrado em seus últimos processos sequer o conhecimento técnico necessário para a atuação como advogado.
O advogado passou em 7º lugar no concurso para juiz de direito substituto do TJAP. Em 5 de abril de 1994, ele foi nomeado para o cargo. Seis anos depois, Koressawa foi exonerado da função. Segundo a portaria publicada em 25 de junho de 2001, a demissão ocorreu a pedido do servidor.
Koressawa mudou-se para Brasília e foi nomeado como promotor de Justiça do MPDFT em agosto de 1996, segundo informações oficiais do órgão. Ele se aposentou do cargo em fevereiro de 2011, por invalidez permanente. Atualmente, Koressawa é advogado ativo com inscrição na Subseção de Taguatinga, da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do DF (OAB-DF).
William Bonner
Koressawa entrou com o mandado de segurança cível contra Bonner porque o apresentador do Jornal Nacional incentiva a vacinação contra a Covid-19. Ele alegou que o jornalista comete os crimes de indução de pessoas ao suicídio, de causar epidemia e de envenenar água potável, substância alimentícia ou medicinal destinada a consumo.
Em decisão expedida no domingo (16/1), a juíza do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) Gláucia Falsarella Pereira Foley chamou o pedido do advogado de descabido: “Como fundamento, [o autor] reproduz teorias conspiratórias, sem qualquer lastro científico e jurídico, esvaziando seu texto em mera panfletagem política”.
Segundo a magistrada, “o Poder Judiciário não pode afagar delírios negacionistas, reproduzidos pela conivência ativa – quando não incendiados – por parte das instituições, sejam elas públicas ou não”.
Ministros do STF
Em março de 2020, Koressawa entrou com uma ação popular contra todos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele argumentou que os magistrados e os presidentes da Câmara e do Senado conspiram para destituir o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) e alterar o regime de governo do Brasil durante o período “em que o povo está em casa, impedido de protestar ou reivindicar, em razão da pandemia do coronavírus que põe todos os países em pânico, portanto, com medidas sorrateiras para tomar o poder”.
Na ação, Koressawa pediu liminar para impedir todas as votações da Câmara dos Deputados e do Senado Federal enquanto durasse o período de “quarentena”.
Ao analisar o processo impetrado pelo advogado, o juiz da 8ª Vara Federal Cível de Brasília, Francisco Alexandre Ribeiro, disse que “a narração dos fatos é extremamente confusa, ininteligível em muitas passagens e, além disso, está entremeada por pedidos desconexos e ilógicos”.
O magistrado ainda escreveu que a narrativa do advogado, “aparentemente ensandecida, é uma legítima teoria da conspiração, inspirada numa profusão de fake news, inclusive juntados aos autos memes, muitos dos quais com imagens e textos extremamente raivosos e ofensivos à honra e à imagem dos réus”.
Em decisão expedida no dia 19 de setembro de 2020, Ribeiro extinguiu a ação sem resolução e mérito e determinou que fosse enviada à OAB-DF a cópia integral dos autos para que o órgão apurasse se o caso configura infração disciplinar do advogado.
Outra parte dessa ação judicial, a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu a condenação de Koressawa por litigância de má-fé ao atrapalhar o Judiciário, que deve dar urgência a casos “genuinamente relevantes”.
Em maio de 2020, o advogado pediu a prisão de 40 autoridades consideradas antagonistas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Manifestantes com faixa do grupo Os 300 do Brasil participaram de ato que se seguiu ao protocolo em frente ao prédio do Superior Tribunal Militar (STM), em Brasília.
Ativista
O mesmo modelo de narrativa conspiratória usado por Koressawa em suas ações judicias mais recentes é reproduzido em diversas publicações nas redes sociais. O homem sempre aparece em seus vídeos com o mesmo estilo: de chapéu, óculos escuros e vestindo camisa ou paletó.
Em um vídeo publicado em 4 de março de 2021 no Instagram, o advogado surgiu ao lado de dois homens, dos quais um estava armado. Ele discursou contra o lockdown e ameaçou governadores e prefeitos. “Que história é essa de decretar lockdown? Se esse vídeo viralizar na boca e no ouvido do povo brasileiro, os senhores serão encarcerados e as suas famílias terão o mesmo destino que os senhores querem dar para as famílias humildes”, disse.
Em outras imagens publicadas na rede social, Koressawa incitou pessoas a irem para a frente da casa do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), a fim de impedir o emedebista de sair do local e de se alimentar. A postagem foi feita na época mais grave da pandemia, quando hospitais estavam superlotados, o que levou o GDF a determinar o fechamento do comércio provisoriamente.
Koressawa tem um site chamado Grupo Ações Libertadoras. Lá, ele compartilha mensagens contra as medidas recomendadas por autoridades para a segurança sanitária diante da pandemia. É também nesse endereço on-line em que Koressawa publica requerimentos para prender governadores e prefeitos em função das ações para mitigar a disseminação da doença.
O advogado é apoiador do presidente e, inclusive, publicou um vídeo no YouTube no qual disse que estava aguardando reunião com Bolsonaro para discutir a greve dos caminhoneiros, em setembro de 2021. Em seu site, Koressawa defende a anulação das eleições de 2020 e a proibição de urnas eletrônicas em 2022. Segundo o advogado, “se permitirmos o uso delas, com certeza, o presidente Bolsonaro não será reeleito.”
Fonte: Isadora Teixeira/Metrópoles