Calheiros diz que CPI será “cruzada contra a agenda da morte”

Daniel Ferreira/Metrópoles

Escolhido como relator, o senador alagoano ainda disse que militarização da Saúde será investigada: “Quando se inverte, a morte é certa”

Ao assumir o cargo de relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) prometeu uma apuração “árida e acidentada, mas exitosa”. Ele se comprometeu a exercer com isenção seu trabalho de elaborar o parecer da comissão.

Calheiros ainda assegurou que não se comportará como a operação Lava Jato – que o investigou e, na avaliação dele, tomou decisões sem provas contra todos os investigados.

“A CPI, alojada em uma instituição secular e democrática, que é o Senado da República, tampouco será um cadafalso com sentenças pré-fixadas ou alvos selecionados”, apontou o senador.

“Não somos discípulos de Deltan Dallagnol, nem de Sergio Moro. Não arquitetaremos teses sem provas ou powerpoints contra quem quer que seja. Não desenharemos o alvo para depois disparar a flecha. Não reeditaremos a República do Galeão”, continuou.

O parlamentar garantiu que, como relator, vai se pautar pela isenção e imparcialidade, independentemente de “valorações pessoais”.

“A investigação será técnica, profunda, focada no objeto que justificou a CPI e despolitizada. É impossível esquecer todos os dias fúnebres em mais de um ano de pandemia, mas é impossível apagar abril, o mês mais mortal, e o dia 6 de abril, com uma morte a cada 20 segundos. Esses números superlativos merecem uma reflexão, merecem um minuto de silêncio”, disse.

“Nenhum expediente tenebroso das catacumbas do Santo Ofício será evocado”, apontou.

Negacionismo

Renan Calheiros apontou que os atos negacionistas do governo serão apurados e comprovados. E criticou as manobras da atual gestão federal para tentar impedir a instalação da CPI, ou mesmo sua relatoria.

“Estaremos aqui para averiguar fatos e desprezar farsas. Para tanto, usaremos das instâncias técnicas do Estado, como Polícia Federal, Ministério Público, TCU, consultoria do Senado e outros organismos que se fizerem necessários”, apontou.

Renan ainda ressaltou que pretende fazer uma investigação voltada para a valorização da vida e contra o que chamou de “agenda da morte”, marcada por “omissão, incompetência ou malversação” de recursos públicos: “Nossa cruzada será contra a agenda da morte”.

“Contrapor o caos social, a fome, o descalabro institucional, o morticínio, a ruína econômica e o negacionismo não é uma predileção ideológica ou filosófica, é uma obrigação democrática, moral e humana. Os inimigos dessa relatoria são a pandemia e aqueles que, por ação, omissão, incompetência ou malversação, se aliaram ao vírus e colaboraram com o morticínio”, disse o relator.

Segundo ele, a comissão será um “santuário da ciência” e contra o “obscurantismo negacionista e sepulcral, responsável por uma desoladora necrópole que se expande diante da incúria e do escárnio desumano”.

“Ao contrário do que vociferavam os franquistas do início do século, ‘viva a morte, abaixo o conhecimento’, estaremos aqui para proclamar, dia após dia: ‘viva a ciência, glória ao conhecimento, respeito à vida’. Tenham absoluta certeza de que este fórum, e anoto a qualificação e experiências aqui reunidas, será uma fonte permanente de reposição e resgate da verdade por sua capacidade intrinsecamente regeneradora. Basta de mentiras”, declarou o senador.

Reprodução/TV Senado
“Militarização”

Renan passou recados para integrantes do governo e ex-ministros que serão alvo das investigações e apontou a militarização do Ministério da Saúde como um dos problemas a serem investigados.

“As gestões no Ministério da Saúde serão investigadas a fundo. Mas não é o Exército que estará sob análise – instituição permanente de Estado cuja memória remete para as 454 mortes em combate na Segunda Grande Guerra, com um universo de 25 mil pracinhas”, comparou.

E criticou especificamente o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello: “Imaginem um epidemiologista conduzindo nossas tropas em Monte Castelo? Na pandemia, o ministério foi entregue a um não especialista, um general”.

“O resultado fala por si: no pior dia da Covid, em apenas quatro horas, o número de brasileiros mortos foi igual a todos que tombaram nos campos de batalha da segunda guerra. O que teria acontecido se tivéssemos enviado um infectologista para comandar nossas tropas? Provavelmente um morticínio”, calculou Calheiros.

Na opinião dele, guerras, sejam elas bélicas ou sanitárias, enfrentam-se com especialistas. “A diretriz é clara: militar nos quartéis e médicos na Saúde. Quando se inverte, a morte é certa. E foi isso que aconteceu. Temos que explicar, como, por que isso ocorreu”, avisou o relator.

Veja como ficou a composição da CPI:
  • Presidente: Omar Aziz (PSD-AM);
  • Vice-presidente: Randolfe Rodrigues (Rede-AP);
  • Relator: Renan Calheiros (MDB-AL);
  • Eduardo Braga (MDB-AM);
  • Ciro Nogueira (PP-PI);
  • Otto Alencar (PSD-BA);
  • ​Tasso Jereissati (PSDB-CE);
  • Eduardo Girão (Podemos-CE);
  • Marcos Rogério (DEM-RO);
  • Jorginho Mello (PL-SC);
  • Humberto Costa (PT-PE).

Suplentes:

  • Jader Barbalho (MDB-PA);
  • Luis Carlos Heinze (PP-RS);
  • Ângelo Coronel (PSD-BA);
  • Marcos do Val (Podemos-ES);
  • Zequinha Marinho (PSC-PA);
  • Rogério Carvalho (PT-SE);
  • Alessandro Vieira (Cidadania-ES).

Fonte: Luciana Lima,Victor Fuzeira/Metrópoles

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